No dia da renúncia do Papa Bento XVI
Pe. Germano Cord Neto SJ, reitor e diretor geral
Pe. Walter Falchi Honorato SJ, superior da comunidade jesuíta do Colégio Loyola
O Colégio Loyola é uma escola católica. É a expressão concreta, em Belo Horizonte, da missão educativa da Companhia de Jesus (Jesuítas) para colaborar na missão evangelizadora da Igreja. Para nós, educar para a responsabilidade com o próximo, para a cidadania, para um senso de comunidade e abertura para a transcendência é uma forma de evangelizar humanizando. Somos, portanto, colaboradores na missão da Igreja, que é testemunhar e anunciar a Fé em Jesus Cristo, Deus-feito-homem, promotor de nossa humanidade.
A renúncia do Papa Bento XVI hoje, 28 de fevereiro de 2013, tem profunda significação histórica e grande significado para os rumos da Igreja neste século. Nesta época do ano, a Igreja está celebrando o tempo da Quaresma, tempo de conversão, isto é, um momento em que o apelo para nos voltarmos realmente para Deus é mais contundente. É também tempo de preparação para a Páscoa, uma celebração da certeza de vida nova em Jesus Cristo Salvador. Assim, é oportuno o momento que o Papa escolheu e uma nova forma de ser Igreja pode emergir; vida nova pode brotar.
Com o anúncio da renúncia do Papa, emergem as mais variadas interpretações sobre a situação e o significado da Igreja, envolvendo escândalos e sinalizando divisões internas. Nesse sentido, a desolação provocada pelo conhecimento das feridas e dores da Igreja em nosso tempo, testemunhadas pelo ato de renúncia do Papa, não depõe contra tanto bem, compromisso, coragem e serviço que tantas comunidades e pessoas – leigos, religiosos e a Igreja local – testemunham a cada dia na medida em que suas vidas são mobilizadas pela Fé em Jesus Cristo e pelo sincero desejo de servir à humanidade em busca de justiça, de paz e de realização. Diante disso, na ambivalência própria das palavras e gestos humanos, o ato do Papa criou para nós, cristãos católicos, um momento de reflexão: faço parte ‘desta’ Igreja? Sou Igreja? Para onde vamos? Para onde queremos ir?
Se existe uma crise da liderança, denunciada pelo Papa e identificada com a hierarquia e com a forma de se exercer o poder na Igreja, a pergunta sincera pela nossa pertença e pelo destino da Igreja pode nos levar a outra atitude, isto é, um maior compromisso com a realização de nossa humanidade através do compromisso com uma sociedade mais justa com os pobres e com quem sofre exclusão e estigmatização. A palavra “igreja” nos chegou pelo grego “ecclesia”, que quer dizer “reunião”. Assim, ser Igreja é partilhar dons que só emergem de pessoas reunidas. Essa pertença nos coloca na condição de receber, partilhar e celebrar os dons que nos vêm do outro e do Alto. A isso é que nos confiamos, no dia de hoje e nos que estão por vir, unidos em Igreja e aos homens e mulheres de boa vontade.