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Destaque 03/06/2016
CARTA ABERTA À SOCIEDADE

CARTA ABERTA À SOCIEDADE

CARTA ABERTA À SOCIEDADE NA SOLENIDADE DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

A fidelidade do Colégio Loyola à missão apostólica da Companhia de Jesus
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Nos últimos meses, temos acompanhado o delicado momento de instabilidade política e econômica em que se encontra nosso país e respectiva repercussão social. Nesse contexto, emergem leituras variadas dos fatos em curso que, via de regra, fomentam a polarização e a intolerância a tudo que destoa do próprio modo de pensar de cada um.  O risco desse movimento, a nosso ver, é a sobreposição de uma ideia à outra e a homogeneização do pensamento que, não raras as vezes, têm consequências totalitárias, fato que inviabiliza o diálogo.

Instituição imersa nesse contexto, o Colégio Loyola, na condição de obra apostólica da Companhia de Jesus, corresponsável, portanto, pela missão educativa desta e da Igreja, reafirma seu compromisso com um processo educativo de qualidade que colabore na construção de uma sociedade mais justa para todos.

Ao longo da história, a Companhia de Jesus explicitou, em diversos momentos, o teor e o conteúdo de sua missão apostólica, que tem origem na experiência de Deus feita, primeiramente, por Inácio de Loyola e, posteriormente, por tantos jesuítas e leigos(as) que empenharam suas vidas por essa causa, a saber, a defesa da fé, da qual a promoção da justiça é parte indissociável.

Portanto, no nosso contexto escolar e com as devidas mediações pedagógicas, a abordagem de alguns temas se fundamenta, única e exclusivamente, na “fidelidade à nossa raiz institucional e ao Evangelho”.

Em outras palavras, essa fidelidade nos impele a tratar da injustiça presente em nosso mundo contemporâneo porque nossa experiência radical se funda em Jesus Cristo, paradigma de ser humano e inspirador de nossas ações, que nos ensina a acolhida do outro, seu resgate e sua humanização. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância.”  (Jo 10, 10)

É esse fundamento que nos abre a possibilidade de trabalharmos, no contexto educativo, temas atuais relevantes que estão diretamente ligados às situações de injustiça, de desumanização, de atentado à vida, pois queremos dignidade e vida plena para todos(as), sem exceção. Nosso compromisso, traduzido nos documentos da Companhia de Jesus sobre educação na formação de pessoas conscientes, competentes, compassivas e comprometidas, é de formar pessoas integradas que se insiram de modo diferenciado em suas relações sociais.

Como publicado pela Federação Latino-americana de Colégios Jesuítas/FLACSI:

Padre Arrupe[1], que cunhou, em 1973, o original da frase: “homens para os demais”, como lema que identifica o essencial da finalidade educativa jesuíta, escrevia: “Que significa o mundo se não se põe a serviço da humanidade? ”.

A fidelidade ao princípio da encarnação supõe que a educação jesuíta seja humanista. Educar significa participar da missão de humanizar o mundo. Com egoísmo, não só não se humaniza a criação, como também se desumanizam as pessoas. O egoísmo transforma as pessoas em meros meios, que ignoram ou depreciam sua condição de fins em si. Transforma as pessoas em coisas, as quais podem ser dominadas, exploradas, e o fruto de seu trabalho pode ser apropriado.

Ao fazer isso, o egoísta se desumaniza a si mesmo, pois se submete aos bens e às riquezas que deseja, torna-se escravo dessa submissão e deixa de ser uma pessoa livre e autônoma, senão alguém guiado heteronomamente por seus próprios desejos cegos e pelos objetivos que marcam a superficialidade e a desumanidade da razão instrumental.

(…)

“Como escapar desse círculo vicioso?”, perguntava-se Kolvenbach[2]. O mal é superado unicamente pelo bem; o ódio, pelo amor; o egoísmo, pela generosidade. “É assim que devemos semear justiça em nosso mundo”. Para ser justo, não basta se abster de cometer injustiças, mas há que “recusar participar em seu jogo, substituindo o autointeresse pelo amor como força impulsora da sociedade”.

Este compromisso pela justiça se pode manter com o cultivo de três atitudes: uma firme determinação num modo de vida simples e austero, uma firme determinação de não obter benefício de fontes claramente injustas, e uma solidariedade realmente vivida com os empobrecidos, que seja verdadeiro compromisso pessoal com o sofrimento do inocente[3].

Esse é o nosso credo, esse é o nosso compromisso, esse é nosso desafio, esse é o modo de ser e proceder inaciano. É o que propomos para nosso labor educativo, cientes e esperançosos de que essa proposta encontrará eco no coração daqueles que querem um mundo mais justo, fraterno e igualitário.

Belo Horizonte, 03 de junho de 2016.

Conselho Diretor do Colégio Loyola

[1]Superior Geral da Companhia de Jesus de 1965 a 1983.

[2] Superior Geral da Companhia de Jesus de 1983 a 2008.

[3] In: MARGENAT, Josep Maria. Competentes, conscientes, compasivos y comprometidos – La educación de los jesuítas. CECOSAMI. Peru: 2012. p. 87 -88. Livre tradução.

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